O prédio do Mercado Municipal foi construído por iniciativa do Cônego Benjamin de Toledo Mello, vigário em São Luiz do Paraitinga entre os anos de 1871-1889. Em documento enviado ao Conselho Municipal no ano de 1873, o sacerdote denuncia “a algazarra provocada por toda sorte de animais e vendedores que, aos domingos, se amontoam ao lado da Igreja Matriz, justamente na hora da missa” (CAMPOS, 2011, p.35).
Considerada desde aquele ano a “IMPERIAL CIDADE” (titulo concedido por Dom Pedro II), aquela situação não poderia continuar desrespeitando a Casa de Deus. Era esse o argumento usado pelo Vigário no documento que enviara ao Conselho. A carta teve êxito, pois, em 1875, o mercado começava a ser construído na Rua dos Fazendeiros (hoje Rua Coronel Manoel Bento), em terreno adquirido pelo Barão do Paraitinga. Era o centro de comércio do município, incluindo, em seus primeiros anos, o comércio de escravos. Tornou-se o local de encontro, de reuniões políticas, dos namoros e das festas. Em 1902, uma reforma deu ao prédio o padrão arquitetônico que tem até hoje. Em 2015, foi revitalizado e voltou a ter as cincos portas, características do projeto original (CAMPOS, 2011).
Morei ao lado, morei na rua do Mercado, e isso lá pelo final dos anos cinquenta, começo dos anos sessenta do século XX. Gostava de dormir na casa dos meus avós maternos, por bons motivos.
Todos os dias, lá pelas sete, oito horas da “matina”, o alarido do Mercado soava magistralmente em meus ouvidos de pequeno mercador dessa bela rua. Esse zumbido era das pessoas que iam comprar ou vender seus víveres ali. Além do mais, parecia-me que todas as pessoas da cidade se encontravam ali. Comprar e vender conversa fiada, ah, também faziam parte do negócio. Aquelas falas soam na minha mente, nos meus ouvidos, nos meus olhos. Sim, todas elas ainda estão lá, como as sete portas do Mercado ainda estão lá!
Ademais, sempre tinha a impressão de que as pessoas da roça e da cidade nunca saíam dali. Moravam e, ainda, estão por ali, é só ficar bem quietinho que é possível escutar o ranger de seus passos. Não, não é fruto de imaginação não. No fundo, no fundo, sempre “morei” no Mercado (MARCO RIO BRANCO, músico e compositor).
Em 24 de setembro de 1814, São Luiz do Paraitinga inaugurava uma capela em honra a Nossa Senhora das Mercês, tendo, em seu altar, uma imagem feita de terracota. A imagem, cuja representação é da Virgem Maria grávida, foi trazida, por Maria Antônia dos Prazeres, de Guaratinguetá/SP (CAMPOS, 2011).
Nos registros mais antigos da cidade, a descrição da vila coloca como um dos seus limites a Capela das Mercês. Em estilo colonial, com parede feita de taipa de pilão e com um metro de espessura, a capela é incrivelmente semelhante à capela do Padre Faria, em Ouro Preto (MG), com detalhes iguais, que vão da nave, do altar, das janelas até o frontispício e o acabamento no telhado (CAMPOS, 2011).
No dia 1º de janeiro de 2010, a capela ruiu pela ação da enchente do rio Paraitinga. A imagem da Virgem Maria ficou destruída em 94 pedaços que foram cuidadosamente recolhidos dos escombros por voluntários, restauração.
Em setembro de 2011, o IPHAN devolvia aos luizenses, totalmente restaurada, sua mais antiga capela, após investir pouco mais de 1 milhão de reais.
Aparentemente desimportante, a Capela das Mercês, de pequenas dimensões, situa-se isolada por um pequeno largo no final de uma quadra, entre duas ruas. Apesar da singeleza, a capela consiste em um dos principais sustentáculos das memórias coletivas locais e, para além dessas, o bem alimenta muitas memórias pessoais. Tenho muitas lembranças da minha infância como coroinha, lá pelas voltas dos anos 1990, quando estar dentro da capela suscitava um misto de curiosidade — por estar dentro de uma capela enigmática que nos fazia viajar no tempo, para o século XVIII, sensação que as outras igrejas da cidade já não proporcionavam por terem passado por grandes transformações no século XX — e apreensão — por saber que ali, em algum lugar, estava enterrada a benfeitora da capela, Maria Antônia dos Prazeres. Mais recentemente, já na nova capela, a lembrança envolve uma pessoa muito querida: minha avó paterna, Dona Benedita. Lembro-me da sua alegria ao adentrar a capela recém-construída, já com as dificuldades impostas pelos seus 85 anos e pela saúde debilitada. Mal sabíamos que ali seria, pouco mais de um ano depois, onde nos despediríamos dela em seu velório. No entanto, a lembrança que guardo é a da felicidade que ela sentiu e demonstrou por poder viver aquele momento da reinauguração (Mestre DANILO PEREIRA, geógrafo).
A autorização para abertura de um novo arruamento, em 1853, na vila de São Luiz do Paraitinga, visava abrir uma nova possibilidade de ocupação, paralela ao arruamento da Rua do Rosário, possibilitando acesso por duas travessas, a do Rosário (hoje Rua do Cruzeiro) e do Ararat (hoje, Rua da Floresta). Pelo privilégio de ver do alto a Praça da Matriz, foi denominada Rua da Boa Vista (SANTOS, 2016).
Nesse arruamento, já existia, desde 1826, uma casa com grande terreno ao fundo, usada para o cultivo de café. A propriedade foi adquirida, mais tarde, pelo médico Bento Gonçalves Cruz, que já tivera passagem anterior pela cidade e que, voltando do Rio de Janeiro, onde se casara com Amália Taborda de Bulhões Cruz, decidira aqui se fixar. Ness a casa, no dia 5 de agosto de 1872, nasceria o primeiro filho do casal, Oswaldo Gonçalves Cruz (CAMPOS, 2011).
Na Igreja Matriz, no dia 05 de fevereiro de 1873, pelas mãos do Cônego Benjamin de Toledo Mello, tendo como padrinhos o juiz João Cândido Rodrigues de Andrade e a sua esposa, Mariana Bernardina Rodrigues de Andrade, o menino Oswaldo Cruz foi batizado (CAMPOS, 2011).
“Acolhimento”: essa é a palavra que define minha relação afetiva com o Ile Oswaldo Cruz. Ile significa casa, onde realizamos o nosso rito existencial cotidianamente. Sua face arquitetônica mostra parte da sua história de vida, oferece a possibilidade de dialogar com seu passado e de aprender com ele.
Poder ritualizar a Capoeira Angola nesse espaço é uma oportunidade única de fazer parte da sua história. Dialogar com esse espaço, por mais de vinte anos, proporciona-me segurança e sabedoria; impressiona-me como esse Ile acolhe vários e ótimos trabalhos culturais, numa harmonia tranquila. Os encontros de saberes locais e as palestras que lá vivencio, marcam minha vida. Um centro de saberes, assim vejo o Ile Oswaldo Cruz. Um espaço muito valioso que ajudarei a preservar durante minha existência.
Concluo percebendo que a felicidade maior é testemunhar que os jovens estão se apropriando desse espaço, o que me dá esperança diante da atual conjuntura social. Modupé (obrigado), Ille Oswaldo Cruz (JOSÉ DAVID EVANGELISTA DA FONSECA, historiador e contramestre do grupo capoeira de Angola Pelourinho).
Em 1707, a primeira capela de São Luiz do Paraitinga foi construída de pau a pique, no alto do morro. Em 1767, ainda antes da fundação oficial da cidade, outra a substituiu, em taipa de pilão, sempre dedicada à Nossa Senhora do Rosário. Ali, em 1802, o primeiro santo brasileiro, Frei Antônio de Santana Galvão, pregou aos fiéis durante uma missão religiosa (CAMPOS, 2011).
Em 1915, em estado precário de conservação, foi demolida, dando lugar à atual igreja, em estilo neogótico por fora e, no interior, misturando o estilo gótico e o românico. A obra foi iniciativa do padre italiano Ignácio Gióia — hoje sepultado no interior da igreja —, o projeto foi do engenheiro Luís Teixeira Leite e o mestre de obras, Pedro Pereira Rio Branco. A igreja foi inaugurada no dia 29 de maio de 1921 (CAMPOS, 2011).
Durante a enchente de 2010, ela serviu de abrigo e de ponto de referência para distribuição de mantimentos e roupas aos desabrigados. Ali, em 07 de janeiro de 2010, foi celebrada a primeira missa na cidade, após a grande enchente. Hoje, foi reformada e é uma joia luizense.
A Igreja do Rosário! Lugar de devoção, mas também de muitas histórias e lembranças que ultrapassam os limites da fé; acaba sendo um lugar de vivências marcantes para grande parte dos luizenses. Claro, como luizense e vizinho da Igreja desde sempre, tive minha infância e minha vida marcadas pelo Rosário, um lugar onde brincávamos muito, mais do que rezávamos. Pião, pega-pega, esconde-esconde, fogueiras de São João e pipas entrelaçavam-se com as formas e as sombras da igreja. Lembro-me das duras do padre Tarcísio e da dona Marta quando o barulho da criançada agitava toda a vizinhança até altas horas da noite.
Lugar de muitos mistérios. Lembro-me, também, das noites em que ficava com medo de chegar em casa, vindo da praça, pois era assustador e intrigante para uma criança olhar para o cemitério, um lugar cheio de mistérios e assombrações. Hoje esse medo passou!
Vivenciei muitas missas, casamentos, batizados e enterros. Vi pessoas saindo felizes e sorrindo, vi pessoas saindo tristes e chorando, fatos que muito marcaram minha memória enquanto luizense (Dr. CARLOS MURILO PRADO SANTOS, geógrafo).
A praça Dr. Oswaldo Cruz já estava prevista no projeto original da vila, considerando a “Vargem Grande”, junto ao rio Paraitinga, identificada desde a chegada dos primeiros fundadores. O local do pelourinho e da Câmara, porém, foi, originalmente, a atual praça Euclides Vaz de Campos, junto ao calçadão (BRASIL, 2010).
A construção da nova Matriz, iniciada em 1830, “representou um giro de 90° em relação ao antigo” (BRASIL, 2010, p. 80) e marca o período da construção dos sobrados na atual Praça da Matriz.
O documento da Câmara Municipal que autoriza a instalação da nova praça sugere que sejam “feitos aterros na praça para evitar a confluência das águas, formando ‘lagoa’ no ‘centro da vila’” (BRASIL, 2010, p. 67), indicando a relação constante entre a ocupação do espaço e a intimidade com o rio Paraitinga.
Emoldurada por casarões do século XIX, a praça Doutor Oswaldo Cruz proporciona uma viagem àqueles que apreciam a história e a simplicidade da vida cotidiana. É um convite à tranquilidade e, ao mesmo tempo, às múltiplas possibilidades estéticas, pois é, neste espaço, que moradores e visitantes celebram momentos de descanso e contemplação. Ademais, sob a imponente presença da Igreja Matriz, a praça revela-se como cenário de confraternização, no qual o luizense apresenta-se com suas principais características um povo que acolhe, compartilha e festeja, agregando, em um único ambiente, a alegria e a serenidade de viver bons momentos.
Dessa forma, é possível apreciar um fim de tarde tranquilo, acomodado em um dos bancos, observando crianças brincando no coreto, ou dançar até a madrugada sob o som das bandas musicais da cidade; ou, ainda, comungar da religiosidade que, em certos momentos, ali se manifesta. Pensar na praça Oswaldo Cruz é pensar com profundidade. Pensar na praça Oswaldo Cruz é ter boas lembranças, relíquia que se guarda como se guarda algo precioso, cuja essência se construiu a partir de boas experiências. Enfim, estando na querida São Luiz do Paraitinga, esteja ao menos alguns instantes neste recanto que o tempo preservou e que, hoje, temos a felicidade de usufruir (PROF. MILTON CARLOS, FILÓSOFO).
Em 1825, a Câmara de São Luiz do Paraitinga solicitou à presidência da Província autorização para construir uma nova Igreja Matriz para a vila. De 1830 a 1840, a construção foi realizada e, até 1894, permaneceu apenas com uma das torres a do relógio.
Em 1927, passou por uma grande reforma comandada pelo Monsenhor Ignácio Gióia, com a troca do beiral colonial por platibandas, projetada pelo mestre Pedro Pereira Rio Branco. Em 1945, nova reforma foi feita, trocando altares de madeira por outros de mármore de Carrara (Itália) e pintura das paredes pelo Domingos de Rocco (campineiro). Em 1972, houve a troca dos forros antigos, organizada por Monsenhor Tarcísio de Castro Moura. Os novos forros foram decorados com afrescos de Álvaro Pereira, artista taubateano (CAMPOS, 2011).
No dia 2 de janeiro de 2010, durante a grande enchente, o templo símbolo maior da religiosidade e da identidade luizense ruiu completamente sob as águas do Paraitinga. Depois de 4 anos, em 16 de maio de 2014, ao custo de R$17.117.787,36 (dezessete milhões, cento e dezessete mil, setecentos e oitenta e sete reais e trinta e seis centavos), a nova Matriz foi reinaugurada e devolvida aos luizenses.